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10 Robôs do passado

Nunca se debateu com tanta intensidade a chegada dos robôs em nossa sociedade.

Ainda que eles não tenham atingido o patamar previsto na ficção-científica, o fato é que eles estão a caminho: eles podem pilotar navios, conduzir caminhões, conversar entre si, parecer humanos, combater o crime e até mesmo tirar nossos empregos.

Ninguém pode dizer com certeza o que acontecerá nos próximos dez anos. Mas é certo que eles já estão conosco há mais tempo do que muita gente imagina e por isso resolvemos fazer uma viagem no tempo e relembrar alguns constructos mecânicos, autônomos ou não, que mostram desde a aurora da História que a raça humana sempre buscou recriar a vida, simplificar suas tarefas ou apenas encontrar uma companhia para sua grande jornada.

1) O Pombo de Arquitas (350 A.C.)

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Parece estranho descobrir que havia um robô antes de Cristo, mas é essa a classificação que os estudiosos dão para o invento do filósofo grego Arquitas de Tarento. De certa forma, era um sistema autônomo capaz de movimento independente e é uma prova fidedigna que o engenho humano é ancestral. O dito pombo mecânico era uma estrutura dotada de asas do lado de fora e com uma bexiga animal do lado de dentro. Uma das extremidades do pássaro mecânico era acoplada hermeticamente a uma espécie de chaleira que gerava vapor. Quando a pressão interna era maior que a conexão, o Pombo de Arquitas era impulsionado para cima, movido à pressão do ar  quente armazenado e suas asas se estendiam automaticamente, fazendo com que voasse por uma longa extensão.

Pode parecer um brinquedo de criança hoje em dia, mas Arquitas foi o fundador da mecânica matemática e provou, com seu artefato, que era possível criar máquinas que se movessem por conta própria, um dos precursores do que muitos séculos depois seria a base da Revolução Industrial.

2) Cavaleiro Mecânico de Leonardo da Vinci (1495)

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A genialidade de Leonardo Da Vinci é amplamente documentada: o pintor responsável pela Mona Lisa e o painel da Capela Sistina também se aventurou em Ciências e produziu esboços para carros blindados, painéis solares, calculadoras e veículos voadores. Em 1950, pesquisadores redescobriram seus cadernos de anotação envolvendo Robótica. Em uma época em que se acreditava que a Terra era plana e as Américas não haviam sido encontradas pelos europeus, Da Vinci surpreendia a corte de Milão com um cavaleiro mecânico real.

Baseando-se em seus profundos estudos de anatomia, o inventor criou uma máquina que usava a armadura de um cavaleiro medieval e era capaz de ficar de pé, se sentar, se levantar depois, movimentar os braços de forma independente e até mesmo abrir e fechar seu visor. Uma impressionante rede de engrenagens e fios permitia os movimentos. Baseados em suas anotações, historiadores foram capazes de recriar o robô em 2002 e ele realmente funcionava.

3) Homem a Vapor de Dederick (1867)

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Zadoc Dederick foi um visionário norte-americano de apenas vinte e dois anos que criou e patenteou um homem mecânico movido a vapor logo após o término da Guerra Civil. Ele foi desenvolvido para puxar carroça e era alimentado por uma fornalha instalada em seu peito, enquanto os gases da queima do carvão eram exalados a partir de sua cartola. O primeiro protótipo custou apenas US$2000, uma pequena fortuna para sua época, mas uma quantia irrisória nos dias de hoje.

Dederick pretendia popularizar a invenção e fabricá-la em larga escala, para vendê-la pela quantia de US$300 mas não contava com um detalhe: sua locomoção baseada em duas pernas era mais adequada para superfícies planas e retas e não para as condições de estradas e ruas existentes no final do século XIX. Em feiras e convenções, o homem a vapor era demonstrado em locais  especiais e a uma distância segura da audiência, devido a sua tendência em tombar no chão. Até hoje, movimentação bípede ainda é um dos grandes desafios da robótica.

4) Boneca Falante de Edison (1877)

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Quem vê as chamadas bonecas inteligentes de hoje em dia ou mesmo as assistentes virtuais, não pode imaginar que Thomas Edison é o avô de todas elas, tendo criado o primeiro modelo há 140 anos. Uma das primeiras aplicações da tecnologia do fonógrafo, criado por Edison, foi justamente colocar vozes geradas mecanicamente em bonecas comuns. As famosas bonecas falantes foram, inclusive, comercializadas e chegaram nas casas dos consumidores antes mesmo do fonógrafo propriamente dito.

Vendidas por US$10, as bonecas vinham com um pequeno cilindro pré-gravado internamente que continha 6 segundos de uma canção infantil. A edição de luxo vinha vestida com peças de fino acabamento e custava de US$20 a US$25, considerado um preço escandaloso para a época, o equivalente a meio salário de um trabalhador médio da virada do século XIX. Não havia um botão que ativasse o sistema e a criança precisava girar a manivela para ouvir a canção, em uma voz que o próprio Edison admitiu mais tarde ser “extremamente desagradável de se escutar”.

5) Seleno – O Cão Elétrico (1912)

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Criado em 1912 pelos pesquisadores norte-americanos John Hammond, Jr. e Benjamin Miessner, Seleno não era exatamente simpático e dificilmente ganharia um concurso de beleza, em nada lembrando os Aibos que vieram muitas décadas depois. Mas o cachorro elétrico primordial era pioneiro em uma tecnologia: sensores fotoelétricos. Ele era capaz de detectar luz e se direcionar para ela. Ele era uma aplicação bem mais doméstica do verdadeiro trabalho da dupla: projetar sistemas de mira para torpedos.

Com seu surgimento, também apareceram os primeiros temores relacionados a robôs. O próprio Miessner tinha pesadelos sobre um futuro próximo onde seu aparentemente inofensivo invento se tornaria “um verdadeiro cão de guerra, sem medo, sem coração, sem o elemento humano tão facilmente suscetível a truques, mas com um propósito: sobrepujar e massacrar o que quer que estivesse dentro do alcance de seus sensores sob o comando de seu mestre”.

6) Elektro da Westinghouse (1937)

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Ironicamente, enquanto o inofensivo Seleno inspirava medo em seu próprio criador, o assustador Elektro da Westinghouse, com seus mais de 2,10 metros de altura, não provocava nem temor nem antipatia do público e foi exibido em feiras como uma prova do prodígio de engenharia da empresa. E prodigioso ele era para sua época: não apenas era capaz de executar 26 movimentos diferentes, como também possuía um vocabulário de 700 palavras e conseguia atender comandos de voz, muitas décadas antes dessa tecnologia se tornar padrão em assistentes digitais. Cada comando era capturado por um microfone, tinha suas vibrações convertidas em impulsos elétricos e disparava onze motores internos no robô.

Elektro foi exibido na Feira de Nova York em 1939 e retornaria no ano seguinte acompanhado de Sparko, um cachorro robô também desenvolvido pela Westinghouse. Depois de fazer o circuito de feiras e eventos por quase uma década, ficou em exibição fixa em um museu e terminou seus dias sendo vendido como sucata. Em 2006, um trabalho de restauração foi realizado pelo filho de um dos engenheiros que trabalharam na sua criação.

7) Handyman da GE (1958)

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Exoesqueletos robóticos são outra fantasia da ficção-científica que está sendo alcançada somente agora no século XXI? Pense novamente: em 1958 a GE já possuía um protótipo funcional. O Handyman era obra do engenheiro Ralph Mosher, um pioneiro nesse tipo de estudo, e permitia comandar utilizando braços hidráulicos, um conjunto de braços ainda maiores de forma remota. Mosher argumentava que operador precisava sentir alguma coisa quando controlava os braços robóticos separados, oferecendo uma sensação tátil da tarefa realizada. O sistema era tão ajustado que era possível segurar um ovo com uma das mãos e esmagar uma bola de golfe com a outra.

O Handyman depois deu lugar ao Hardiman, um exoesqueleto completo, de braços e pernas, que permitia ampliar a força do usuário para levantar mais de 600 quilos e o habilitava a interagir diretamente com o ambiente e as tarefas, sem precisar comandar um braço externo remotamente. Embora a tecnologia tenha sido desenvolvida sob contrato para as Forças Armadas, Mosher previu que ela poderia ser aplicada na construção civil, nas indústrias, no espaço ou nas profundezas do oceano.

Infelizmente, os exoesqueletos de Mosher sofriam do mesmo problema do Homem a Vapor do século anterior: faltava-lhes a estabilidade para permanecer de pé nas circunstâncias exigidas para o uso e a produção em massa nunca aconteceu.

8) Unimate de George Devol (1961)

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Coube ao norte-americano George Devol finalmente colocar os robôs no mundo real em uma escala jamais vista antes. Sua criação, o Unimate, foi o primeiro de milhões de robôs industriais que passaram a realizar tarefas que eram perigosas ou insalubres para seres humanos. A GE foi pioneira na utilização do Unimate, em sua planta em Nova Jersey, mas a indústria automobilística não seria a mesma sem sua adoção em cada fábrica, combinando carcaças, soldando componentes e trabalhando 24 horas por dia.

O Unimate era basicamente um computador colossal, onde eram programadas suas funções, dotado de um longo braço articulado com seis eixos de movimento, capaz de realizar tarefas em alta velocidade e com o máximo de precisão.

A tecnologia do Unimate daria origem também aos primeiros incidentes fatais envolvendo robôs e humanos. Em 1979, Robert Williams foi morto atingido na cabeça por um braço mecânico em uma fábrica da Ford nos Estados Unidos. Dois anos depois, um trabalhador japonês teria o mesmo destino em uma fábrica da Kawasaki, atingido por um robô similar ao da foto acima.

9) Caminhão Andante da GE (1969)

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Ralph Mosher e a GE garantiram duas posições nessa lista porque não se detiveram nos exoesqueletos. Se o problema da tecnologia anterior era a estabilidade em duas pernas, a próxima etapa seria o Caminhão Andante, com quatro pernas. Novamente, seu desenvolvimento foi financiado pelos militares, mas a empresa também pensava nas aplicações civis, como uma alternativa para tratores em terrenos acidentados demais para o uso de rodas. Foi a primeira tentativa na história da robótica de emular o modelo de locomoção de quadrúpedes e sua herança é palpável no caminho seguido até hoje pelas máquinas da Boston Dynamics.

No protótipo da GE, o operador humano caminhava normalmente na cabine e seus movimentos eram mimetizados pelas pernas do robô. Algumas unidades também eram dotadas de braços, o que fazia com que o Caminhão Andante guardasse similaridades com os centauros da mitologia.

10) Genus (1983)

genus

Enquanto os robôs já estavam conquistando as fábricas e os orçamentos militares, faltava ainda ganhar a simpatia dos consumidores comuns e invadir as casas. Entretanto, mesmo estreando na CES de 1983, mesmo cumprindo o que prometia, essa “geladeira” com rodas parecia desajeitada e feia e foi solenemente ignorada pelo público.

O Genus estava à frente do seu tempo e era dotado de sensores de movimento, detectores de fumaça, sensores de infravermelho e áudio. Era plenamente capaz de mapear completamente uma residência e navegar no seu interior, fazendo a limpeza do chão, interagindo com pessoas e até atendendo à porta, três décadas antes de seus sucessores melhor recebidos. Em caso de bateria fraca, ele mesmo buscava uma tomada e se recarregava. Tudo isso com impressionantes 48K de memória! Ele também era construído de forma modular, permitindo expansões e novas configurações, mas não vingou. Não houve demanda. A era dos assistentes domésticos ainda estava muito longe de começar.