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Brasil dos jogos: Epopeia

O mercado de jogos eletrônicos nacionais explodiu nos últimos anos, com novos títulos chegando às prateleiras digitais em ritmo acelerado. Essa série busca traçar um perfil de alguns destes desenvolvedores brasileiros que lutam por um espaço nesse mercado em ascensão.

O estúdio Epopeia é um representante da efervescente cena de desenvolvimento de jogos do Rio Grande do Sul e está envolvido na produção do jogo Pago, um título regionalista com forte influência das obras do escritor gaúcho João Simões Lopes Neto. A desenvolvedora conta com o apoio de Christopher Kastensmidt, ex-Diretor Criativo da Ubisoft e roteirista norte-americano radicado no Sul do Brasil desde 2001.

Auto-definidos como uma “equipe de empreendedores que buscam explorar o entretenimento e a educação em games”, sua base de operações é em Porto Alegre. A desenvolvedora tem um longo histórico de envolvimento em advergames para diferentes clientes e já esteve ligado ao ensino do desenvolvimento de jogos para novas gerações de criadores. No início desse ano, conseguiu emplacar I’m Awesome na plataforma Greenlight do Steam e já está com outro título no forno.

Cena de Pago, em desenvolvimento
Cena de Pago, em desenvolvimento

Conversamos com o desenvolvedor Ivan Silveira, um dos componentes da Epopeia.

1) Como surgiu a ideia de formar o Epopeia?

A ideia surgiu lá em 2006, quando eu fiz um curso profissionalizante de jogos com o meu sócio Rodrigo Moreira, passávamos horas pós o curso na parada planejando ideias de jogos e como construir uma empresa.

Naquele momento iniciamos, mas não foi muito pra frente, por conta da imaturidade em diversos aspectos, afinal tínhamos apenas 18 anos.

Decidimos então, ter um pouco mais de experiência e em 2008 ele e 2009 eu iniciamos a graduação de jogos na Feevale.

Em 2009, o Rodrigo preferiu adquirir experiência trabalhando em uma empresa de jogos que era comandada pelos professores do curso, para adquirir mais experiência ainda. E então, conheci o nosso outro sócio Pedro Gabriel que estava também cursando jogos

E ambos estávamos cansados dos empregos que tínhamos e resolvemos dai planejar a nossa saída, juntando uma verba e executando finalmente no início de 2010, legalmente registrada a empresa Epopeia Entretenimento Digital.

E agora em 2016 entrou o nosso novo sócio Gustavo Silveira, que nos complementou na parte de direção de arte que até então era o nosso grande calcanhar de Aquiles.

2) Como começou essa relação de vocês com os jogos eletrônicos? Quais são suas influências?

Todos nós jogávamos games desde criança, 2 a 3 anos.

Mega drive, nintendinho, phantom, atari e snes.

Nas influências falarei por mim, sou bastante nintendista. Os jogos do NES e SNES são sempre as minhas principais referências de bons gameplays.

3) Depois de alguns advergames, vocês investiram forte em I’m Awesome, que chegou a receber o greenlit no Steam em 2014. Que fim levou o jogo?

I'm Awesome
I’m Awesome conseguiu o sinal verde do Steam para entrar na loja.

O I’m Awesome foi um e ainda é um projeto bem cobaia.

Nós começamos ele no final de 2012, era só para brincar com a notícia que circulava sobre o fim do mundo.

Começamos a evoluir ele aos poucos, nas horas vagas dos advergames, apresentando em feiras que a ADjogosRS ( Associação dos Desenvolvedores de Jogos do Rio Grande do Sul) oportunizava para as empresas exporem.

Dali vimos um potencial e decidimos no 2º semestre de 2014, iniciar realmente o nosso primeiro projeto próprio até colocarmos no green em 2015.

No início desse ano, recebemos a confirmação que ele foi aprovado no green. Não esperávamos porque era um projeto cobaia.

Então, reformulamos todo o game design e escopo do jogo e em Outubro pegamos uma equipe de jovens desenvolvedores e estamos executando a produção para finalizar e lançar no início de 2017.

https://www.youtube.com/watch?v=7CJ7KYFfUXo

4) PAGO, o atual projeto de vocês é totalmente diferente de I’m Awesome. O que motivou essa guinada?

O fato de termos trabalho e gostado de fazer o 1º jogo cobaia próprio, mudou muito as nossas vidas, porque em 2015 decidimos iniciar o planejamento de mudança de empresa de advergames para empresa de produção de jogos próprios.

Então basicamente, nos incubamos produzindo prestação de serviço e dedicando muito mais tempo no estudo sobre game design e mercado e prototipando diversos jogos desde digitais como PC e mobile até cardgames.

Mas, o principal é que começamos a identificar a nossa identidade, que é focada em contar uma boa história através de um bom gameplay.

Então em uma tarde discuti o assunto com o Gustavo Silveira, até então trabalhando em sua própria empresa, tentando encontrar alguma trend que pudesse concretizar nossos objetivos.

E após bastante análise sobre mercado e temas que poderíamos explorar chegamos no PAGO.

5) O Rio Grande do Sul é rico em grandes escritores. Por que a escolha de João Simões Lopes Neto?

Estávamos com a ideia de explorar a cultura brasileira, mais especificamente no Sul. Após conversas entre nós e alguns amigos do mercado, o nosso presidente da Associação deu uma referência que seriam os livros de Simões Lopes Neto.

Dali, começamos a ler os Contos e Lendas Gaúchas e vimos que isso tinha totalmente a ver com a nossa proposta, divulgar um pouco da cultura de uma forma que faça um mix entre fantasia e realidade.

6) Por que o projeto tem esse nome?

PAGO – é sobre um local que tenha essência pra ti, um local que desperta sentimentos fortes para ti e que tu deseja sempre ficar lá.

É nisso que o jogo se trata, sobre um gaúcho que após muitos anos longe da sua terra natal decide voltar para o seu pago, o seu lar.

Cena de Pago, em desenvolvimento
Cena de Pago, em desenvolvimento

7) Como PAGO chegou até Christopher Kastensmidt e qual o papel que ele exerce no desenvolvimento do jogo?

O Christopher é um grande mentor e amigo nosso, ele foi professor de 3/4 dos sócios da empresa, trabalha no mercado há 20 anos e por um bom tempo escreveu sobre folclore brasileiro em seus livros, na série A Bandeira do Elefante e da Arara.

Ele é um amante da cultura gaúcha e principalmente dos livros de Simões Lopes Neto, com tudo isso somado a suas raízes americanas, pois ele é do EUA, facilita o processo de adaptação da nossa cultura para o mundo.

Apresentamos o projeto e na hora ele gostou muito e ai tudo se encaixou e estamos bastante felizes em tê-lo no projeto.

8) Quais ferramentas estão sendo utilizadas na produção de PAGO?

Basicamente: Unity / Ilustrator, Photoshop / 3D MAX e Blender.

9) PAGO está buscando ajuda na iniciativa privada no momento. Como as empresas podem ajudar? Vocês pensaram em algum tipo de financiamento coletivo?

Não pensamos em financiamento coletivo, nós estamos trabalhando em parceria com a empresa TRIFORCE para nos ajudar a inscrever projetos de leis incentivo a cultura e outros editais, assim como um planejamento de cotas de patrocínio que podemos apresentar no início do ano que vem.

10) A Southlogic Studios foi uma das mais duradouras e bem-sucedidas desenvolvedoras brasileiras. De que maneira ela influenciou o trabalho de vocês?

Nós temos um grande respeito por essa empresa e sempre que pudermos iremos citá-la como a principal empresa que o Brasil já teve, no tempo em que ela viveu. O que de fato é comprovado.

Como disse anteriormente, o Christopher foi um dos principais sócios dela e nosso professor, assim como tivemos outros que trabalharam lá e nos ensinaram algumas coisas relevantes para as nossas produções.

11) Ainda há muita resistência do público brasileiro contra jogos nacionais ou isso vem mudando nos últimos anos?

Como tudo na vida as coisas vão mudando, as vezes para melhor e outras para pior. No caso do consumidor brasileiro, esta começando aos poucos a melhorar.

Talvez, pelo fato de vocês da imprensa e as feiras nos darem mais aberturas e exporem melhor os nossos trabalhos, isso com certeza gera algum tipo de retorno.

Mas, ainda está no começo… evoluindo pro bem… mas, aos poucos.

As belas paisagens dos pampas marcarão presença em Pago.
As belas paisagens dos pampas marcarão presença em Pago.

12) A cena do Rio Grande do Sul parece ser bem sólida. Como é a sua relação com outros estúdios da região e em outras partes do Brasil? Rola uma camaradagem ou o ecossistema por aqui ainda é muito isolado?

Eu acho que a cena de games no Brasil esta cada dia mais forte. Regiões como Minas Gerais, Salvador, Brasília e etc.. já possuem uma comunidade que interage bem entre eles e com o resto do país, assim como nós.

No nosso caso específico, temos grandes amizades dentro do RS, devido a ADjogosRS. Sempre rolam reuniões mensais, confraternizações semanais com os amigos devs.

Nacionalmente temos algumas empresas como a AOCA Game de Salvador, Gametrials do RJ, a Otus em Brasília e assim por diante. Trocamos experiência, quando nos vemos em eventos tomamos umas cervejas

E amizade só vai evoluindo.

13) Vocês podiam falar um pouco sobre o trabalho de vocês na FTEC Faculdades?

Nós saímos de lá, eu fui professor durante 2 anos e fui chamado pra ser coordenador. Foi uma grande experiência pra minha vida, aprendi e amadureci muito com as experiências lá.

Porém, houve conflitos nas ideologias, formas de passar o aprendizado que me fizeram me desligar da faculdade. Mas, sem rancor ou coisa do tipo. Foi uma grande experiência.

Agora estamos planejando a nossa escola Epopeia School, criando modelos de cursos focados totalmente em mercado. Aos poucos estamos evoluindo esse planejamento.

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Estande da Epopeia School no evento Evento Anime Buzz, realizado em Agosto de 2016.

14) Como vocês veem o cenário dos jogos nacionais nos próximos dez anos?

Se continuar tendo essa parceria entre as empresas, trocando informações, ajudando umas as outras; se continuar tendo o interesse de novas regiões fomentarem suas associações, na qual a ADJogosRS esta sempre aberta em ajudar como estamos fazendo com algumas; se continuar crescendo a exposição do nosso mercado perante a oportunidades de eventos, mídias; e, acima de tudo, a galera sempre fizer uma auto análise, ir evoluindo com os erros, gerando uma maturidade, eu não tenho dúvidas que seremos uma potência mundial.

No mínimo na América Latina.

Pois, sabemos produzir conteúdo, temos mão de obra pra isso, estudamos pra isso. Mas ainda estamos aprendendo a ser organizados como ecossistema de Mercado e aprendendo a produzir PRODUTO e não apenas um jogo que sempre se quis fazer.

15) Nas horas vagas, quais são os jogos preferidos de vocês?

Eu particularmente gosto de jogar FIFA e GOD OF WAR no PS3 e NES. Kkkkk, amo jogar jogos das antigas tanto que NES e Game Boy são o que consumo no celular. O resto é só pra estudo mesmo, ter experiência e entender como está a situação hoje.

O Pedro gosta de Dark Souls, o Rodrigo e o Gustavo é melhor eles falarem não sei exatamente o que eles consomem kkk.