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Como 12 linguagens de programação foram batizadas

Todo mundo já usou uma variável chamada “x’, “k”, “y” ou mesmo “n”. Vai, confesse! E quem também não aderiu ao esquema húngaro de variáveis, alternando maiúsculas e minúsculas, com coisas aparentemente estranhas como StrUsuarios ou ClientesCorporativos. E qual é a regra para underscore? Ou você usa hífen? Tudo junto e misturado?

Se não é possível chegar a um consenso sobre nomes de variáveis, imagina nomear uma linguagem de programação inteira! A Apple recentemente revelou ao mundo a poderosa Swift, que significa, em uma tradução literal, “imediato”, “instantâneo”, para reforçar a velocidade de suas aplicações. Mas, desde 2007, a Universidade de Chicago já havia desenvolvido uma linguagem de programação com o mesmo nome! Sem mencionar o famoso programa de edição de Flash da Erain, que já existia muito antes disso tudo e foi batizado de Swift 3D.

Criar um nome pode mesmo ser complicado… Trazemos aqui a origem do nome de 12 linguagens de programação. Algumas destas histórias são bizarras, outras fazem sentido, mas todas mostram que é mais fácil criar toda uma nova linguagem do que escolher o nome certo.

1) Lua

Essa deve deixar os estrangeiros de cabelo em pé tentando entender o significado… mas nada poderia ser mais simples. Desenvolvida pela TeCGraf, na PUC, no Rio de Janeiro, a linguagem é filha de outra chamada SOL (Simple Object Language).

Se a primeira se chama Sol, é óbvio que a sucessora deve se chamar Lua. Certo? E nem pense em grafar LUA, como se fosse um acrônimo para Linguagem Universal de Acesso ou Laser Unificado de Arroz, porque não é um acrônimo, como eles frisam com muita ênfase na página oficial. É Lua. E fica combinado assim.

2) Scratch

Se você nunca ouviu falar do Scratch, basta dizer que foi uma linguagem desenvolvida com fins educativos pelo MIT Media Lab em 2003. Com ela, crianças podem conectar blocos para montar programas que irão determinar a ação de elementos na tela. Você pode produzir filmes, jogos, músicas, histórias, com facilidade, enquanto aprende os princípios básicos da fina arte da programação.

Uma linguagem com este propósito não poderia ser batizada de C# ou Jscript para não espantar o público-alvo. Para isso, foi escolhido um nome que se conectasse com a garotada: Scratch.

scratch

Mas, o que significa Scratch afinal? É a gíria utilizada por DJs para o movimento de girar ou interromper a rotação de discos de vinil para criar aqueles sons típicos do hip-hop. Como podemos perceber, tem tudo a ver com crianças e tudo a ver com programação. Só que não.

3) Python

Não se deixe enganar pelas cobras que aparecem no logotipo! A origem do nome da linguagem Python não tem nada a ver com a serpente píton, grande devoradora de mamíferos. Sua origem é bem mais suave.

python-logo

Quando o programador holandês Guido van Rossum criou a linguagem como uma derivação da linguagem ABC por puro hobby durante um recesso de Natal, ele afirma que procurou um título que fosse “curto e misterioso”. Acabou pegando inspiração no grupo inglês de humor Monty Python, de quem era um grande fã.

Mas de onde o grupo Monty Python tirou esse nome? Isso nenhum deles sabe explicar direito. Mas também não foi da cobra.

4) Forth

Em homenagem à linguagem de programação criada por Charles Moore no final dos anos 60, ela ocupa a quarta posição de nossa lista. Isso porque o programador tinha apenas um modesto IBM 1130 para chamar de seu e resolver a tarefa de seu chefe de criar novos padrões gráficos de desenhos de carpete. Sim, uma linguagem inteira foi desenvolvida por causa de carpetes.

Uma vez que a tarefa daria um trabalho danado para ser realizada em FORTRAN usando uma máquina tão lenta, Moore fez o que qualquer gênio faria: criou uma linguagem nova que desse conta do recado.

Ele queria batizar sua criação com o nome de “Fourth”, por que essa seria uma linguagem de “quarta” geração. Não era o mais criativo dos nomes, mas o destino lhe pregaria uma última peça: o capenga IBM 1130 só aceitava nomes de arquivos com cinco caracteres. Moore deu um suspiro, largou o “u” no meio do caminho e deu o nome de Forth para a linguagem que nascia.

5) Perl

Falando em largar letras pelo caminho… No caso do Perl, não foram as limitações tecnológicas que deturparam a grafia da palavra “pearl” (“pérola”).

Obra de Larry Wall no final dos anos 80, o programador queria um nome curto e singelo para sua nova linguagem. Poderia ter sido Gloria, em homenagem a sua esposa do mesmo nome e não seria uma má escolha. Mas ele optou por Pearl e esperamos que não tenha gerado confusão em casa.

Entretanto, Pearl gerou confusão sim, porque já havia uma linguagem de programação com este nome, que funcionava como a abreviatura de Process and Experiment Automation Realtime Language, que já tinha pelo menos dez anos de estrada antes da obra de Wall.

O programador decidiu largar o “a” e batizou sua criação de “perl”, assim mesmo, em caixa baixa, porque estava na moda entre a comunidade Unix. Só em 1993, com o lançamento do Perl 4 é que a linguagem ganhou sua inicial maiúscula.

6) Ruby

Falando em pérolas… Yukihiro Matsumoto (mais conhecido como “Matz”) queria por que queria  um nome de joia para sua linguagem de programação, uma vez que seu objetivo final era “substituir o perl”.

O programador japonês ficou dividido entre Coral e Ruby, mas acabou optando pela última por motivos… místicos.

Na tradição oriental, o rubi é a pedra da sorte dos nascidos no mês de Julho e, consequentemente, a pedra da sorte de Matz. E veio muito a calhar que Pérola fosse a joia da sorte do mês anterior, Junho. Uma vez que ele queria uma linguagem que viesse depois do Perl, ele não teve mais dúvidas, bateu na madeira e foi à luta.

 7) AWK

AWK é uma velha conhecida de quem trabalhou com UNIX. Foi desenvolvida em 1977 para processar arquivos de texto e passou a ser incluída no sistema operacional dois anos depois. Foi uma linguagem interpretada bastante influente para a criação do Perl.

AWK (ao contrário de Lua) é um acrônimo. Mas não do que ela é capaz de fazer e sim uma abreviatura dos sobrenomes de seus três desenvolvedores originais: Alfred Aho, Peter Weinberger, e Brian Kernighan. Não é a mais criativa das origens, temos que admitir.

Entretanto, a pronúncia de AWK é a mesma de “auk“, o nome em inglês da ave conhecida no Brasil com o nome muito mais comprido de torda-mergulheira. Por essa coincidência fonética, a ave se tornou o símbolo da linguagem, o que é uma decisão mais sábia do que utilizar sempre a imagem de seus três criadores.

auk

8) Java

Por muito pouco, a linguagem criada pela Sun no começo dos anos 90 não se chamou Oak (“carvalho”, em Português). Já estava tudo encaminhado nesse sentido quando os advogados da empresa descobriram que o nome já havia sido registrado por uma fabricante de microchips. Acredite se quiser, mas o nome tinha sido inspirado por… um carvalho que crescia perto da janela de James Gosling, um dos pais do que viria a ser o Java.

Sem poder usar Oak, os programadores precisaram de várias(!) reuniões para decidir um novo nome. Tentaram DNA. Os advogados barraram. Tentaram Silk (“seda”). Os advogados barraram. Tentaram Ruby! Mas ninguém gostou… Foi sugerido WRL ou WebRunner Language, mas era um nome obviamente horroroso e não vingou. Lyric, Pepper, Neon, WebDancer. Nada disso.

Depois de muito debate e muito café, ninguém se lembra mais quem afinal olhou para a própria xícara e pensou em Java (uma variedade de café originária da ilha do mesmo nome).

9) Scheme

O pobre Charles Moore precisava de apenas seis caracteres para escrever o nome de Fourth corretamente. O tempo passou e o problema seguiu perturbando outros criadores de linguagens…

Gerald Jay Sussman e Guy Steeledo MIT estavam desenvolvendo um dialeto do Lisp que deveria se chamar Schemer (“o criador de esquemas”). Por quê? Porque todo dialeto do Lisp terminava assim: Planner (“planejador”) e Conniver (“conspirador”) são alguns exemplos. A regra é clara: se você está criando um dialesto para Lisp, ele tem que seguir o padrão.

Mas a dupla deu o azar de desenvolver a linguagem no sistema operacional do MIT ITS (Incompatible Timesharing System), que limitava nomes de arquivos para dois componentes de no máximo seis caracteres cada. Se os seis caracteres teriam deixado Moore muito feliz no final dos anos 60, em 1975 obrigaram Sussman e Steeledo a romper a tradição e largar o “r” do final de Schemer.

10) Smalltalk

“Conversinha”, “lero-lero”, “papinho”, é difícil traduzir o nome desta linguagem criada no começo dos anos 70 pela Palo Alto Research Center (PARC) da Xerox. Sua origem é, por assim dizer, bastante simples.

Segundo Alan Kay, um dos pais do Smalltalk, o objetivo era ir de encontro a uma tradição que determinava que nomes de sistemas deveriam ser derivados de divindades mitológicas, como Zeus ou Thor. Segundo ele, era muita responsabilidade e os sistemas nem sempre ficavam à altura de seus imponentes nomes.

Com muita humildade, a linguagem foi batizada de Smalltalk. Na verdade, o tempo revelou que era falsa modéstia e a criação da PARC acabou influenciando muitas outras linguagens, como o próprio Java, o Python e o Ruby, já listados.

11) Groovy

Nenhuma linguagem de programação terá um nome mais bacana do que esse. Groovy não tem uma tradução direta para o Português, mas pode ser definido como tudo que é descolado, “irado”, maneiríssimo, show de bola. Exceto que é uma gíria dos anos 60, o que dá um ar hipster para a coisa toda.

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“Groovy, baby!”

James Strachan criou a linguagem em 2003, muito longe da época em que as pessoas normais falavam “groovy”. Mas, em suas próprias palavras, a nova linguagem “foi construída bem em cima daquele código groovy de Java que existia por aí”.

É definitivamente um nome que é uma brasa, mora.

12) Scala

Eu gostaria de encerrar esse artigo escrevendo que a linguagem criada por Martin Odersky em 2001 foi inspirada em uma famosa casa de show carioca, onde aconteceram alguns dos bailes de Carnaval mais quentes da história. Mas não há nenhuma indicação de que o senhor Odersky tenha passado por terras brasileiras e muito menos curtido as folias de Momo.

Segundo seu criador, o nome derivou de SCAlable LAN, já que um de seus atributos é a escalabilidade. Outro motivo citado por ele é que Scala significa “escada” em Italiano e a linguagem serviria para que os programadores “ascendessem para uma linguagem de programação melhor”.

Modesto, não? Teria sido melhor se ele tivesse assumido seu lado folião…