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Como usar aplicativos Android no seu Windows em 2020

Em março de 2016, analisamos três programas que prometiam e cumpriam a tarefa de trazer o ambiente e os aplicativos Android para dentro do Windows, através de emulação de sistema operacional. O tempo passa e chegou a hora de reavaliar nossos testes.

Logo depois dos testes realizados, seguimos utilizando BlueStacks como opção para esse recurso, mas ele se provou a longo prazo trazer algumas desvantagens: elevado consumo de memória, baixa performance e insistência na instalação de adwares. Será que ele voltou a ser uma opção viável depois de todos esses anos?

Em contrapartida, AMIDuOS foi descontinuado em 2018 e não reaparece em nossa lista, enquanto o Droid4X, que estava disponível em versão Beta, foi lançado em sua versão final (mas ainda chamada de Beta).

Estreando na lista temos o Nox Player, focado em jogos eletrônicos e o veterano Andy, que se tornou estável o bastante para ser avaliado.

Para a realização desses testes, irei comparar os resultados desses quatro programas, em termos de capacidade de utilizar a Play Store e rodando três aplicativos diferentes: o Facebook, o editor de imagens que virou febre FaceApp e o jogo Call of Duty: Mobile.

BlueStacks

Se em 2016 o BlueStacks se gabava de ter 130 milhões de usuários em todo o mundo, agora esse número saltou para 400 milhões de usuários, com o foco do programa cada vez maior no mercado gamer.

Em sua quarta versão, o programa se beneficia do recurso de Assistente de Virtualização por Hardware das CPUs modernas, que precisa estar habilitada no seu PC para o programa atingir o ápice da sua performance. Se não for o caso na sua configuração, o próprio programa oferece instruções detalhadas de como ativar esse recurso nativo do seu processador.

Um dos grandes diferenciais do BlueStacks permanece: a emulação do ambiente Android com facilidades que só existem no ambiente Windows, como multitarefa e poder copiar e colar usando Ctrl+C e Ctrl+V do Windows para o ambiente de emulação. Cada aplicativo aberto ocupa uma aba no topo da interface, o que facilita e muito a navegação e alternância entre janelas, embora possa desagradar quem deseja uma reprodução mais fidedigna da plataforma móvel.

Sua interface é claramente focada no usuário iniciante. Para quem não sabe por onde começar, o programa oferece uma ampla lista de aplicativos que podem ser baixados e instalados, inclusive via APK (o famoso, mas arriscado sideload). Um jogo que eu não conhecia, dos Cavaleiros do Zodíaco, já veio instalado “de fábrica” e vários outros títulos aparecem uma barra lateral e devem funcionar como o modelo de negócios da desenvolvedora.

Além disso, felizmente,o BlueStacks permite adicionar uma conta do Google, o que habilita o uso da Play Store oficial do Android sem qualquer tropeço.

Nos últimos anos, o BlueStacks melhorou sua performance: dos minúsculos 200 MB de RAM utilizados por padrão, ele caiu para 56 MB. Graças ao executável extremamente leve BlueStacks Agent, o programa oferece a opção de continuar recebendo notificações depois de encerrado (e continua rodando em segundo plano).

O aplicativo do Facebook funciona adequadamente no BlueStacks, como se estivesse em um smartphone, mas não permite formato paisagem.

O aplicativo do FaceApp não apenas funcionou adequadamente no BlueStacks como ainda importou a imagem arrastando e soltando do Windows.

Por curiosidade, reinstalei o Moon Reader, o leitor de ebooks que não funcionou direito no BlueStacks em 2016. Felizmente, o emulador corrigiu seus problemas do passado e o Moon Reader agora funciona perfeitamente.

O jogo Call of Duty Mobile exigiu uma otimização automática das configurações e um reinício do ambiente virtual do BlueStacks. O jogo entrou com qualidade gráfica baixa. Ainda assim, mesmo com a interface por toque na tela, o titulo funciona adequadamente com teclado e reconhece o mouse suavemente.

Droid4X

Diretamente da China, o Droid4X já assusta na instalação ao solicitar permissão de passar o firewall nativo do Windows 10, com nome escrito em chinês. Embora eu entenda que o programa necessite de recursos da internet, o fato do sistema operacional apitar durante a instalação pode impressionar os mais paranoicos. Essa etapa não aconteceu em nenhum dos outros programas analisados.

Felizmente, superada essa desconfiança, é possível dizer que o processo de instalação do Droid4X melhorou muito desde seu Beta em 2016 e transcorreu sem novos incidentes. Contudo, o programa ainda traz a marca Beta no nome e vários problemas, que vão muito além da instalação.

Se ele não carrega nenhum aplicativo pré-instalado, sua interface não é das mais agradáveis. Felizmente, a presença de caracteres orientais foi corrigida, ainda que um Inglês incorreto ainda permaneça aqui e ali (quatro anos depois e “Recommand” ainda incomoda). As configurações, ainda que limitadas, são o básico que você espera de um emulador Android.

Em termos de consumo de memória e performance, o programa melhorou em relação ao seu passado. Os absurdos mais de 600 MB de RAM agora são modestos 350 MB consumidos. Entretanto, essa é a única evolução palpável e uma que não fará diferença em nossa análise.

De imediato, o programa oferece uma conexão direta com a Play Store para facilitar a vida do usuário. Porém, dá erro na hora de completar a conexão. A Ajuda do programa é uma série de slides, que não resolvem problemas, e eu vasculhei para fazer a Play Store funcionar, sem sucesso. Esse é um problema que vai impedir o prosseguimento de sua avaliação.

Felizmente (ou infelizmente, já que é arriscado), o programa também aceita o uso de APKs e chega a assumir o controle da extensão. Com um clique duplo no Windows, o aplicativo é instalado dentro do ambiente virtual do Android do 4DroidX. Na teoria, poderia ser uma solução para o entrave com a Play Store, mas não é o que acontece: mesmo aplicativos baixados por APK de fonte segura se recusam a completar a instalação ou funcionar corretamente.

O navegador interno funciona de forma satisfatória e é possível visitar sites na internet, comprovando que o programa possui conexão e passa pela Firewall do Windows 10, sem problemas. Ainda assim, seu acesso à Play Store é misteriosamente bloqueado, mesmo com as configurações do “dispositivo” informando que minha conta foi adicionada.

Talvez na China, seu país de origem, o 4DroidX não seja tão quebrado. Sua loja interna (o tal “Recommand”) não está acessível em nossa região.

O próprio processo de capturar telas parou, depois de um tempo. Uma tentativa de colocar o 4DroidX em tela cheia resultou em tela azul, como se o monitor tivesse parado de receber sinal da GPU.

Em resumo, quatro anos depois, o 4DroidX se tornou uma opção ainda mais instável do que era e não é recomendado por nós.

Nox Player

O Nox Player se propõe como o “mais simples e melhor” emulador Android para jogos. Uma vez que jogos eletrônicos não são o nosso único foco aqui, vamos compará-lo também com os demais em relação a seu suporte à Play Store e a aplicativos do dia a dia.

Por ser pensado para trazer amplo suporte a jogos, o Nox Player promete entrada de teclado e mouse por padrão, melhorias de performance e outras mordomias, inclusive gravação de macros (que podem ser consideradas trapaças em jogos competitivos).

A instalação é bem rápida e sua interface consegue ser mais agradável que a do BlueStacks, ao evitar a barra lateral de produtos sugeridos. Em contrapartida, ele já trouxe dois jogos pré-instalados e… uma barra de sugestões na parte inferior (que, felizmente, não é fixa).

Aberto, ele parece consumir somente 52 MB de RAM, mas há outro serviço em execução que ocupa impressionantes 495 MB de RAM para si.  Em tempos em que um navegador pode utilizar facilmente o dobro desse volume, não é algo preocupante, mas serve de parâmetro comparativo mesmo assim.

O Nox Player oferece conexão direta com a Play Store, seu próprio App Center e suporte a arquivos APK.

O aplicativo do Facebook funciona adequadamente no Nox Player, embora haja uma visível perda de qualidade, como se a resolução estivesse abaixo do especificado nas configurações.

O aplicativo do FaceApp não apenas funcionou adequadamente no Nox Player como ainda importou a imagem arrastando e soltando do Windows.

Possivelmente por se focar em jogos móveis, o Nox Player não precisou passar por uma otimização prévia ou uma reinicialização para rodar Call of Duty Mobile. O jogo entrou com qualidade gráfica baixa. Porém, apesar de ser seu principal diferencial, o Nox Player não reconheceu automaticamente o controle por mouse ou teclado dentro do jogo, simulando os comandos por toque de um dispositivo móvel. O jogador pode configurar teclas de atalho, mas o processo não é perfeito e tampouco eficiente.

Andy

O Andy começa errando na instalação, ao tentar forçar a instalação casada de um produto da McAfee e do navegador Opera e requer sua atenção para não terminar com esses dois programas no PC por acidente. O processo de instalação também parece empacar depois dessa etapa, abre várias janelas e fecha rapidamente, mas acaba sendo concluído.

O resultado final é agradável ao olhar. O Andy ganha por uma interface limpa, sem aplicativos pré-instalados ou “sugestões” (já que seu modelo de negócios, aparentemente, era realizado na instalação). O programa também é bem fácil de usar e se conecta com a Play Store sem atritos.

Os usuários mais avançados irão perceber a falta de um menu de configurações do Andy em si dentro do programa. Esse recurso é encontrado fora do programa, através do chamado Andy Launcher.

Aberto, ele consome modestos 156 MB de RAM. Ao encerrar, não deixa agentes para trás ou processos rodando, o que é uma vantagem. Entretanto, a boa impressão cai por terra quando se trata de rodar os aplicativos selecionados para esse comparativo.

O Facebook se recusa a rodar dentro do Andy. O aplicativo da rede social parece carregar, mas trava infinitamente ou simplesmente fecha e devolve o usuário para a tela inicial do ambiente Android.

O aplicativo do FaceApp funcionou adequadamente no Andy, porém não há suporte para arrastar e soltar arquivos do Windows. O processo de compartilhamento de arquivos com o ambiente Android é complicado e foi mais prático subir a foto para o Google Fotos e trabalhar a partir de lá.

Call of Duty Mobile exibiu uma mensagem de que o dispositivo não atende os requisitos mínimos para executar o jogo e depois trava. Tentei liberar mais memória virtual no Andy Launcher e alterar o vGPU, sem sucesso.

Conclusão

Novamente, BlueStacks se destaca por ser a melhor solução entre as analisadas. Resta saber se o programa se manterá estável a cada evolução ou se voltará a apresentar um consumo excessivo e um abuso na exigência de instalação de aplicativos afiliados, como já aconteceu no passado.

O 4DroidX era ruim em 2016 e conseguiu piorar. Pensado no mercado chinês, talvez suas limitações sejam regionais.

O Nox Player surpreendeu fazendo aquilo para o qual não foi concebido: rodar aplicativos normais. Porém, no único jogo analisado, apresentou desempenho inferior e não trouxe o suporte a mouse e teclado esperado, justo para um dos títulos mais populares do momento.

Andy não é um desastre total como o 4DroidX, mas apresentou problemas e limitações em vários aspectos e perdeu no comparativo.