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O que é IndieWeb e por que você precisa conhecer o conceito?

A internet surgiu como uma solução descentralizada de servidores conectados. Desse conceito, surgiu a web e o sonho de que qualquer um, em qualquer lugar do mundo, poderia ter seu espaço para divulgar conteúdo e disputar alcance.

Décadas depois, o que vemos é uma coleção de silos centralizados que determinam o que deve ser publicado e o alcance que cada indivíduo consegue atingir. Sem o apoio do Facebook, o conteúdo não vai a lugar algum. Sem o aval do YouTube, seu conteúdo em vídeo morre na praia. Twitter, Instagram, Snapchat não se comunicam e aquilo que é postado em um lugar não é replicado em outro. Vivemos em condomínios digitais fechados à mercê de seus proprietários e padrões antes universais e democráticos como o RSS agora são apenas uma vaga lembrança.

Esse fenômeno não foi percebido hoje. Desde 2010, um movimento de desenvolvedores, pensadores e críticos da internet clama pelo fim da dependência de silos controlados e por colocar de volta o produtor de conteúdo no centro da web. Esse movimento foi batizado de IndieWeb.

História

A primeira reunião oficial dos simpatizantes do movimento aconteceu na IndieWebCamp de 2011, mas as sementes já estavam plantadas muito antes disso. Um de seus fundadores, Brad Fitzpatrick, já defendia conceitos parecidos quando ajudou a criar o LiveJournal, uma das primeiras plataformas de blogging da internet.

Ao invés de controlar o acesso e fechar seu serviço, como outras redes sociais fariam depois dele, Fitzpatrick imaginava que qualquer um poderia rodar o LiveJournal em seus próprios servidores e abriu o código-fonte da plataforma.

Ele também permitiu que usuários deixassem comentários em diferentes sites rodando LiveJournal, sem que fosse necessário criar uma conta em cada um deles, fazendo com que as diferentes instâncias do serviço se comunicassem entre si. Esse conceito de login unificado, mas descentralizado, deu origem ao OpenID, outro projeto de Fitzpatrick que obedece aos mesmos princípios e segue existindo até hoje.

Em 2010, alternativas de código aberto às principais redes sociais estavam emergindo. Para o Twitter, havia o StatusNet. Para o Facebook, surgia o Diaspora. O próprio Google, adotando muitos dos ideais do que viria a ser o IndieWeb, lançava o Buzz, uma plataforma integrada e interativa que se comunicava com outros serviços. No ano seguinte, o primeiro IndieWebCamp acontecia, organizado por  Tantek Çelik, Amber Case, Crystal Beasley e Aaron Parecki, visando empoderar produtores de conteúdo e desenvolvedores e estimular a quebra de silos como as redes corporativas.

Sete anos depois do primeiro evento, o sonho persiste, ainda que a explosão esperada nunca tenha acontecido. StatusNet e Diaspora nunca atingiram seu potencial, OpenID se tornou um entre vários outros protocolos muito mais populares, Buzz foi encerrado e substituído por um Google+ muito mais fechado em si mesmo. Nesse meio tempo, Facebook se tornou um gigante hegemônico e, para uma fração considerável dos usuários da internet, passou a ser o seu jardim fechado de acesso à web.

Independência ou Morte

Parecki define a necessidade dessa contra-cultura, que nada mais é que um resgate da web original: “o Twitter e o Facebook mostraram um caminho mais fácil para a criação online. A visão original era que todo mundo tinha seu próprio espaço e fazia as coisas. Então os silos formaram e atraíram as pessoas porque era mais fácil.”

Os princípios do movimento IndieWeb são claros e fáceis de se identificar:

  • Seu conteúdo é seu. Quando você publica algo na Web, ele deve pertencer a você, não a uma corporação. Muitas empresas saíram de cena e perderam todos os dados de seus usuários. Ao entrar no IndieWeb, seu conteúdo permanece seu e está sob seu controle.
  • Você está melhor conectado. Seus artigos e mensagens de status podem ir para todos os serviços, não apenas um, permitindo que você se envolva com todos. Até mesmo respostas e curtidas em outros serviços podem voltar ao seu site para que elas fiquem no mesmo lugar.
  • Você está no controle. Você pode postar o que quiser, em qualquer formato que quiser, sem que ninguém o monitore. Além disso, você compartilha links legíveis simples, como mywebsite.com/ideas. Esses links são permanentes e sempre funcionarão.

Se não foi possível derrubar o controle dos silos corporativos, a alternativa para a IndieWeb tornou-se a interoperabilidade. Celik introduziu o conceito de POSSE (Publish (on your) Own Site, Syndicate Elsewhere, ou, em bom Português, “Publique no seu próprio site, distribua por todo lugar”). Em sua própria definição:

POSSE permite que seus amigos continuem usando o que eles usam para ler suas coisas (por exemplo, agregadores de silo como Facebook, Tumblr, Twitter, etc.).

É uma parte fundamental do porquê e como o movimento IndieWeb é diferente de apenas “todos blogam em seu próprio site”, e também diferente de “todos apenas instalam e executam (YourFavoriteSocialSoftware)” etc. soluções de monocultura.

POSSE é sobre manter contato com amigos atuais, ao invés do potencial de manter contato com amigos no futuro.

Como resistir?

Se a face da web mudou para um monstro na mão de um triunvirato formado por Google, Twitter e Facebook (com clara supremacia deste último), como manter intacta a visão de uma web independente? Como resistir quando os dados do usuário se tornam mercadoria, quando a produção de conteúdo e sua distribuição se tornam a isca para arregimentar mais e mais usuários?

Celik admite que essa é uma luta perdida e que “a adoção em massa nunca foi nosso foco”. E explica: “é mais sobre capacitar pessoas que já estão interessadas”.

Entretanto, boa parte do foco do movimento atualmente está em convencer as pessoas a adotarem um serviço de hospedagem próprio, adquirirem seu domínio e marcarem sua presença na web, sem se limitar a criar um perfil em uma plataforma já existente. Embora essa recomendação possa parecer óbvia para quem já é do meio, para o público em geral e novos usuários que  chegam à internet todos os dias, o tempo de ter seu próprio espaço, seja um blog, seja site modesto, já passou e criar uma página no Facebook ou escrever para o Medium está ao alcance de poucos cliques.

Para quem já passou dessa etapa, ainda é válido prestar atenção aos padrões de integração do POSSE. Com o uso hábil de cartões de metadados e protocolos de autenticação, é possível centralizar e até automatizar a distribuição de conteúdo, unificando a sua identidade através de diferentes redes sociais já estabelecidas.

Para quem já tinha conteúdo publicado em silos corporativos, o wiki do IndieWeb oferece instruções de portabilidade, para migrar material postado no Twitter, Tumblr e Facebook para seu próprio domínio.