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Há vida em Second Life?

A taxa de mortalidade infantil de Second Life é de 90 em cada 100 avatares ao fim do primeiro mês de vida. Estaria o mundo virtual, como seus avatares, fadado a morrer?…

A revista Wired de agosto trata Second Life em termos muito pouco amigáveis, ao tom de “How Madison Avenue Is Wasting Millions on a Deserted Second Life” (“Como Madison Avenue está jogando milhões de dólares fora, num Second Life deserto…”). Madison Avenue, nos EUA, é sinônimo de propaganda, suas agências e anúncios, quer no mundo real ou virtual. A reportagem descreve as agruras de quem apostou que haveria milhões de pessoas querendo interagir com suas criações em SL e a crua e desanimadora realidade de ilhas às moscas. Pelo menos até agora.

Algo como oito milhões de avatares (pra quem não entrou em algum mundo virtual, trata-se de um representante virtual seu, sua “segunda vida”) foram criados em SL até agora. Apenas um milhão e duzentos mil estavam ativos em março deste ano, segundo dados da comScore World Metrix. Atividade, aqui, é ter entrado pelo menos uma vez no ambiente, usando um “browser” feito especificamente pra SL. Nos últimos 60 dias, segundo a Linden Labs (a “dona” do mundo) um milhão e seiscentos mil avatares tiveram algum tipo de atividade e, quando este texto foi escrito, havia 44 mil deles logados. A América Latina inteira tem menos de oitenta mil usuários. O que dá, numa regra de três simples, menos de dois mil latino-americanos no ar, por lá, ao mesmo tempo, dos quais menos de mil seriam brasileiros.

Para a propaganda, isso é muito pouca gente. Há instalações virtuais muito elaboradas, resultado de muito tempo e dinheiro gasto, que ficam abandonadas a maior parte do tempo. A NBA do Second Life teve apenas 1.200 visitantes em junho. É possível passar horas sozinho (meditando?) nas instalações virtuais da Coke. Poderia ser muito pro meu blog, mas é um desastre para os midiáticos NBA e refrigerante. Ou não. Pode ser que os amantes de basketball estejam gastando todo o seu tempo assistindo Leandrinho detonar no Phoenix Suns. Tomando Coca.

O problema é que a IBM, Coca-Cola e muitos outros não estão achando que seus espaços vão ter muita gente nem tão cedo. Primeiro porque um servidor do SL só pode sustentar cerca de 70 avatares ao mesmo tempo. Pra criar uma multidão seria preciso milhares de servidores dedicados a um mesmo espaço. Ou mudar radicalmente o software que implementa o mundo. A primeira alternativa não se sustenta do ponto de vista econômico. E a segunda não é prática. Além de infinitamente mais cara.

Mas o problema real e muito mais profundo – e que vai “matar” Second Life, na minha opinião – é que SL é um mundo fechado, uma propriedade privada, comandada e ordenada por um único dono, a Linden Labs. E não conversa com o resto da rede, com os outros mundos virtuais. Não há como mudar uma “casa” construída lá para nenhum outro lugar. O “browser” de SL é só de lá. Tudo (seja lá o que for) que é de lá, é só de lá e ponto final. E este é o mesmo problema de todas as outras imitações do metaverso que há por aí

Muitos anos atrás, Bill Gates e Steve Case acharam que Microsoft e AOL iriam competir entre si pra ver quem tomaria conta da vida dos usuários na rede. Na verdade, qualquer um dos dois estaria contente com 30% do negócio. Deu no que deu. Suas estratégias fechadas fracassaram, porque empresas e usuários, aqui fora, queriam uma rede interoperável, com o mesmo browser para todos os “mundos”, com a possibilidade de cortar, copiar, colar e mixar coisas de cada parte da rede para recriar suas próprias visões e versões da rede. Philip Rosedale, fundador do Linden Labs, parece que pulou esta página da lição. E talvez, ao fazê-lo, tenha escrito a última página de Second Life.

Com informações de G1.