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Kit para golpe insere ‘leigos’ em crime virtual

A atuação dos piratas virtuais está cada vez mais profissional. Em busca de ganhos financeiros, esses criminosos passaram a criar grupos com estruturas hierárquicas muito bem elaboradas, além de contar com kits que permitem a realização de golpes virtuais sem a necessidade de vasto conhecimento em programação. A conclusão é de um relatório da empresa de tecnologia Symantec, divulgado nesta quarta-feira (19) em São Paulo.

A oferta dessas ferramentas já prontas indica para uma profissionalização do mercado de golpes. Assim como companhias sérias oferecem a seus clientes softwares para funções específicas, desenvolvedores mal-intencionados vendem códigos prontos para aqueles que têm a intenção de praticar golpes, mas não possuem conhecimento o bastante para criar seus programas. De acordo a companhia, esses kits têm até manual para facilitar seu uso.

“Programadores passaram a vender ferramentas já prontas para que os aventureiros também possam aplicar golpes. Além de aumentar o número de fraudes, esses kits agilizam a prática criminosa”, afirmou Paulo Vendramini, gerente de engenharia de sistemas da companhia para o Brasil. No primeiro semestre desse ano, diz a empresa, foram identificados cerca de 212 mil cavalos de tróia (programas que monitoram o uso do PC), contra cerca de 74 mil no mesmo período de 2006.

Segundo o Relatório Sobre Ameaças à Segurança na Internet, houve um aumento no número de criminosos que optam pelo uso desses kits de ferramentas na realização de ataques. No período de 1º de janeiro a 30 de junho, por exemplo, apenas três kits voltados para o roubo de informações na web responderam por 42% desses golpes (chamados de phishing scam, eles têm como objetivo o roubo de dados para a obtenção de vantagens financeiras).

“Com essa profissionalização, aqueles de índole criminosa usam pessoas com conhecimento avançado em tecnologia para poderem aplicar golpes via internet”, explicou José Mariano de Araújo Filho, delegado assistente da Delegacia de Crimes Praticados por Meios Eletrônicos, do DEIC (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado). “Assim, observamos a criação de uma estrutura muito bem organizada, parecida com aquela montada para o tráfico de entorpecentes”, comparou.

Mercado negro
A Symantec não define uma estimativa de valor para a venda dessas ferramentas – os preços variam muito, dependendo de quanto os golpistas podem lucrar com o programa. Já os valores relacionados à venda de dados das vítimas são muito bem-definidos. Ao comercializar informações de cartão de crédito, por exemplo, os golpistas embolsam de US$ 0,50 a US$ 5. Os preços para dados bancários vão de US$ 30 a US$ 400, enquanto senhas de e-mail têm variação de US$ 1 a US$ 350.

Aqueles que usam programas para o roubo de informações podem responder criminalmente, assim como acontece com os golpistas on-line responsáveis por transferências financeiras não-autorizadas – geralmente, os responsáveis por essas duas funções fazem parte da mesma quadrilha. No entanto, os desenvolvedores de programas maliciosos não podem ser presos por conta de suas criações.

“Só é possível incriminar esse desenvolvedor se ele assumir que criou um código malicioso para lesar outras pessoas. No entanto, sabemos que é muito improvável que isso aconteça”, afirmou o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito eletrônico. Já os demais participantes dos golpes virtuais, lembrou o especialista, podem responder por violação de segredo, estelionato e formação de quadrilha, entre outros crimes.

Em julho, a Justiça Federal do Pará condenou 65 pessoas envolvidas com crimes via internet – essa foi a maior condenação realizada no país, se levado em conta o número de pessoas e também o tempo das penas. O líder da quadrilha, que pegou a maior pena, terá de cumprir 21 anos e nove meses de detenção.

Com informações de G1.