Sexo é uma das mais incompreendidas, desejadas e temidas forças que impulsionam o espírito humano desde o princípio da raça. O Google é um dos mais utilizados, desejados e temidos mecanismos que permeiam nosso dia a dia há mais de uma década. O que um deles pode nos dizer a respeito do outro?
Foi atrás da resposta dessa pergunta que o economista Seth Stephens-Davidowitz estudou por anos uma vasta quantidade de buscas realizadas no Google nos Estados Unidos. Ele se debruçou sobre toneladas de dados coletados de diferentes fontes para compilar um mapa a respeito do que as pessoas estão pesquisando no Google a respeito de sexo. Alguns resultados são surpreendentes, outros são óbvios, todos explicitam o que tal sociedade está realmente procurando, direto da boca do maior oráculo de nossos tempos.
De acordo com o Google, a maior preocupação a respeito de casamento é a falta de sexo. Buscas com a frase “sexless marriage” (“casamento sem sexo”, em Português) são 350% mais frequentes do que pela frase “unhappy marriage” (“casamento infeliz”) e 800% mais comuns do que “loveless marriage” (“casamento sem amor”). Os mais preocupados com a questão são os homens, com 16 vezes mais consultas sobre esposas que não desejam sexo do que maridos que não desejam sexo. Curiosamente, antes do casamento, são as mulheres que pesquisam mais sobre “namorados que não transam” do que homens pesquisando sobre “namoradas que não transam”.
Esta obsessão por parceiros que não praticam sexo pode ser explicada por outra estatística. Segundo os dados computados por Stephens-Davidowitz, o americano médio faz sexo 30 vezes ao ano, em torno de uma vez a cada 12 dias.
Mas porque tão pouco sexo se a falta dele figura alto no topo das pesquisas? Para o pesquisador, a resposta é insegurança.
Qual é o tamanho do meu pinto?
“Homens pesquisam no Google mais perguntas sobre o seu órgão sexual do que qualquer outra parte do corpo: mais do que seus pulmões, fígado, pés, orelhas, nariz, garganta e cérebro combinados”. Para cada 100 pesquisas envolvendo “meu pênis…” há apenas 67 com as palavras “meu coração…” e somente 40 com os termos “minha cabeça…”.
Homens pesquisam mais sobre métodos para aumentar o próprio membro do que sobre como trocar um pneu, afinar uma guitarra ou fazer uma omelete. O que também explicaria a imensa popularidade e a aparente imortalidade dos spams que oferecem “soluções” para este problema: há muita, muita demanda por este tipo de produto. Os dados indicam que muitos temas giram em torno do tamanho do pênis: a pesquisa mais comum sobre o uso de esteroides não é sobre danos à saúde ou efeitos positivos ou contra-indicações mas sobre se eles diminuem ou não o tamanho do membro; a pesquisa mais comum relacionada à velhice masculina não é sobre deterioração mental, alimentação saudável ou aposentadoria mas é sobre se o pênis diminui com o tempo.
A pesquisa mais comum envolvendo o órgão sexual masculino é direta: “how big is my penis” (“o quão grande é meu pênis”, em Português). Nas palavras do economista, “que homens vão para o Google, ao invés de usar uma régua, com esta pergunta é, na minha opinião, a expressão máxima de nossa era digital”.
Mas se os homens estão preocupadíssimos com esta questão, qual é a posição das mulheres?
Segundo o Google, para cada mulher que pesquisa sobre o pênis do parceiro, há 170 homens fazendo a mesma pesquisa sobre si próprios. Há quase 200 homens preocupados com a questão para cada mulher. Ironicamente, apenas 60% das pesquisas realizadas por mulheres está relacionada a pênis pequenos. Para 40% das pesquisas, a dúvida é o que fazer com membros que são grandes demais. Apenas um por cento das mulheres pesquisa sobre alterar o tamanho do pênis de seus parceiros e a pesquisa é sempre sobre como reduzi-los, não aumentá-los…
Qual é o tamanho do meu bumbum?
Ao contrário do que prega o senso comum, mulheres pesquisam tanto sobre suas vaginas quanto homens sobre seus pênis. Entretanto, 70% destas buscas estão relacionadas à questões de saúde, com apenas 30% relacionadas a temas mais prosaicas como depilação ou odor.
Os maiores complexos femininos estão mesmo relacionados aos seios ou ao bumbum. Enquanto 300 mil mulheres realizam cirurgias plásticas todos os anos para resolver a questão daquele, este último se tornou uma nova obsessão apenas recentemente.
Em 2004, de acordo com dados apurados pelo Google, a pesquisa mais comum era sobre como reduzir o tamanho do bumbum, na maior parte dos Estados Unidos. Apenas em grandes metrópoles, com alta concentração de população negra, segundo o pesquisador, o inverso acontecia. Entretanto, em 2014, o desejo por um bumbum maior se expandiu para todo o território americano. Nos últimos quatro anos, o volume de pesquisas neste sentido triplicou. Atualmente, para cada cinco pesquisas procurando por implantes nos seios, há uma busca por um aumento de bumbum.
Curiosamente, ele aponta que este pico de interesse também tem correspondente no público masculino, com um equivalente crescimento no número de pesquisas envolvendo pornografia e termos como “bumbum grande”. Há também 20 vezes mais buscas nesse sentido com os termos “seios grandes” ou equivalente do que por “seios pequenos”. Ironicamente, quando os termos “esposa” e “implantes” estão envolvidas na pesquisa, os homens se dividem: metade deseja saber como convencer a esposa a colocar implantes enquanto a outra metade quer entender porque ela deseja colocar implantes.
Inseguranças e Google
O psicólogo Dan Ariely tem uma explicação do porque tantas pesquisas no Google estão relacionadas à insegurança: “Google é um reflexo do que a pessoas não sabem e precisam de uma informação extra”. Para Stephens-Davidowitz, isso significa que as pessoas pesquisam no Google sobre aquilo que não perguntariam para outra pessoa. Sexo ainda é um tabu na sociedade norte-americana e na grande maioria das sociedades ao redor do mundo. “Se você quer saber como fazer uma omelete, você pode simplesmente perguntar para um parente. Você provavelmente estará menos propenso a perguntar a um parente sobre aumento de pênis”.
Na solidão da tela de busca, livre de máscaras e subterfúgios, as pessoas revelam mais aos bancos de dados do Google do que aos seus pares.