Ted Leibowitz, dono e DJ da BAGeL Radio, opera a estação de música independente de um quarto no seu apartamento em São Francisco.
Na semana passada, uma apresentadora de rádio conhecida como Vibegrrl, que trabalha no horário de almoço na Hot 99.5, uma estação pop de Washington, ofereceu aos ouvintes do programa uma oportunidade de ganhar ingressos para o show da banda Hinder.
Mas para ganhar, era preciso mais do que ligar para a rádio. Primeiro os ouvintes tinham de visitar o site da Hot 99.5 e identificar a foto de uma mulher de tanga, fotografada de costas; só depois eles deveriam ligar para o estúdio com a resposta. (Para surpresa de ninguém, a mulher era Britney Spears.)
“Todo mundo passa o dia inteiro na Internet”, disse Vibegrrl, cujo nome real é Lara Dua. “Seria meio falta de inteligência não tornar essa tendência parte daquilo que fazemos”. A interação com os ouvintes costumava ser “muito limitada”, ela acrescenta. Agora, porém, “eu bato papo, mantenho um blog, faço pesquisas e atendo telefonemas, tudo ao mesmo tempo”.
Depois de anos cedendo espaço (e potenciais verbas publicitárias) a um exército de rádios autônomas na Internet, algumas das quais são operadas de porões e quartos de hóspedes em residências, as maiores redes de rádio dos Estados Unidos decidiram agora investir no mercado online, determinadas a conquistar e reter a próxima geração de ouvintes. O resultado pode ser um duelo para definir o futuro da mídia.
Diante da lenta erosão em suas audiências, à medida que os ouvintes optam por iPods, podcasts e outras fontes de entretenimento, as empresas de rádio estão tentando combinar a música e o papo de seus apresentadores à Internet, acrescentando streams que oferecem seus programas para acesso online e recursos já disponíveis em muitas das rádios online independentes. Entre eles, os destaques são salas de chat, blogs e redes sociais à maneira do MySpace.
No final do mês passado, a CBS anunciou que estava pagando US$ 280 milhões para adquirir a Last FM (last.fm), um popular serviço de rádio online que permite aos ouvintes criar estações personalizadas com base em seu gosto pessoal, e também explorar as listas de canções solicitadas por outros ouvintes. E a Clear Channel, a maior cadeia de rádios norte-americana, com mais de 800 estações, construiu redes sociais em miniatura nos sites da Hot 99.5 (hot995.com) e de sete outras estações de música pop em grandes mercados norte-americanos, como passo final em uma ambiciosa iniciativa digital.
Tudo isso surge em momento inoportuno para as pequenas estações de rádio que operam apenas na Internet, as quais precisarão pagar royalties muito mais altos às gravadoras (e artistas) pela música que executam. As estações online anteriormente pagavam uma porcentagem de sua receita pela música transmitida para seus ouvintes – o que na prática garantia que suas despesas com direitos autorais jamais excederiam qualquer receita que viessem a obter. Mas uma comissão federal, o Conselho de Royalties e Direitos Autorais, determinou novas taxas, que vigorarão a partir de 15 de julho, e com isso a estrutura será alterada de forma a fazer com que as rádios de Internet paguem uma taxa de royalty a cada vez que um ouvinte escuta uma das canções que executam.
A Soma FM (somafm.com), uma rádio online de San Francisco que opera 11 estações especializadas em gêneros variados, tais como música folclórica e temas de filmes de espionagem, teve US$ 20 mil em despesas com direitos autorais sob a estrutura anterior, disse Rusty Hodge, fundador do site. Mas Hodge, que disse que as estações que opera, somadas, atraem um pico de audiência simultânea de 12 mil pessoas, calculou que o novo sistema resultaria em US$ 600 mil em taxas de royalty se aplicado aos seus resultados do ano passado.
Empresas de porte variado vêm tentando angariar apoio para apelar ao Congresso que reverta a decisão do painel. “Caso ela seja mantida, nosso setor acabou”, disse Ted Leibowitz, engenheiro de software e fundador da BAGeL Radio (bagelradio.com), serviço online especializado em rock indie que ele opera de um quarto no seu apartamento em San Francisco. Para os ouvintes, disse ele, a perda do potencial de escolha seria semelhante à que os assinantes de TV via satélite sofreriam caso o satélite que transmite sua programação caísse. “As pessoas terão um milésimo das escolhas de que dispõe hoje”, ele afirma.
O custo de executar canções online pode se tornar obstáculo para as empresas tradicionais de rádio, igualmente, à medida que mais e mais delas passam a transmitir sua programação também na web; Mas é um preço que elas talvez não possam evitar. Os anunciantes todos estão correndo para a mídia online. Pela primeira vez, os anunciantes norte-americanos investem mais em mídia online do que no rádio, de acordo com a TNS Media Intelligence, que acompanha o investimento publicitário. No primeiro trimestre deste ano, sites de Internet receberam 7,7% do bolo publicitário no país, ante 6,6% para as rádios, de acordo com a TNS.
As redes de rádio ainda atraem imensas audiências. A estimativa é de que 230 milhões de pessoas por semana continuem a ouvir rádio. O truque para as grandes empresas, no entanto, é que procurar ouvintes online talvez torne necessário desenvolver toda uma nova abordagem quanto à programação.
Muitas estações online dizem que sua mídia permite que ofereçam muito mais gêneros do que uma rádio tradicional seria capaz, e muitas vezes com programação completamente personalizada. A Pandora (pandora.com), uma das mais populares entre as rádios online, com cerca de sete milhões de usuários, cria rádios personalizadas com base nas características das canções de que seus usuários mais gostam. A Live 365 (live365.com), que afirma ter quatro milhões de ouvintes ao mês, é um portal aberto a buscas, formado por milhares de pequenas estações especializadas em gêneros como neosoul ou blues cristão.
Tradução: Paulo Migliacci ME
Com informações de Terra.