Lançado nos Estados Unidos em Julho de 2013, o Chromecast chegou ao Brasil no ano seguinte. Trata-se de um dispositivo de streaming em forma de dongle, bastante parecido com um pendrive.
Concorrente direto da Apple TV (além de ter sido lançado oficialmente em território nacional), o equipamento permite a transmissão de conteúdo multimídia à partir de dispositivos móveis (smartphones e tablets) e de computadores para a tela da televisão.
Considerações iniciais
Dentre seus atrativos, podemos mencionar inicialmente o preço competitivo (US$ 35,00 no exterior – R$ 200,00 – R$ 250,00 no Brasil, contra os US$ 69,00 / R$ 399,00 do equipamento da Apple) e a grande variedade de conteúdo e aplicativos disponíveis.
O pequeno aparelho conta com uma porta HDMI em uma das pontas e com uma micro USB na outra. Ele pode ser alimentado tanto através de uma das portas USB da TV (um cabo acompanha o conjunto) quanto através de um adaptador (também acompanha o pacote).
Vale lembrar que aparelhos de TV com conexões HDMI padrão 1.4 fornecem toda a energia que o Chromecast precisa, dispensando, portanto, a necessidade de alimentação via USB ou adaptador. O aparelhinho, quando instalado, ocupa pouquíssimo espaço e pode até mesmo passar despercebido.
Mais liberdade e conteúdo para o usuário
Diferentemente de outros dispositivos de streaming, incluindo set-up-boxes como a Apple TV, por exemplo, o Chromecast é um tanto quanto mais aberto. O usuário é quem decide quais aplicativos (e consequentemente, quais serviços) vai baixar/utilizar. Nada vem pré-instalado de fábrica, nenhum conjunto de aplicações (Netflix, Youtube, Chrome, Deezer, Twitch, etc) é exibido ao usuário assim que ele liga o Chromecast pela primeira vez.
O próprio aplicativo do Chromecast para smartphones e tablets serve basicamente para configuração: as transmissões e os devidos ajustes individuais devem ser realizados em cada uma das apps, conforme o uso e a necessidade.
O Chromecast foi lançado com suporte a uma pequena quantidade de serviços, mas isto mudou rapidamente. Atualmente seu SDK está disponível para download e uma grande quantidade de serviços e aplicativos de terceiros já faz parte de seu ecossistema.
A maneira como o dongle do Google trabalha, totalmente descentralizada, também é bem interessante, mesmo que passível de assustar alguns usuários e/ou causar algumas confusões. As transmissões sempre devem ser iniciadas à partir da fonte, do serviço em questão, ou seja, do aplicativo oficial de cada provedor de conteúdo. Sendo assim, para transmitir vídeos do Youtube para a TV, por exemplo, é preciso iniciar o aplicativo do site de vídeos e clicar no botão “Cast”. E assim por diante.
Aplicativos e extensões
O VPC Media Player, por exemplo, incluirá suporte ao Chromecast à partir da versão 3.0, mas já neste momento é perfeitamente possível transmitir vídeos armazenados em computadores locais (que estejam dentro da mesma rede wi-fi onde se encontra o dongle).
Extensões e utilitários como Videostream, Plex, Google Cast (para o navegador Chrome) e LocalCast permitem espelhamento de conteúdo armazenado em computadores e em dispositivos móveis de maneira muito simples e eficaz, sem muitos passos antes da transmissão. Na verdade, usar estas extensões é um procedimento muito descomplicado: o usuário precisa apenas abri-las e escolher o conteúdo que será espelhado. Simples assim.
Vídeos, imagens diversas, músicas, fotografias e até mesmo arquivos PDF podem ser assim reproduzidos na tela da TV, sem que o usuário precise pagar nada a mais por isso nem tampouco perder tempo com ajustes trabalhosos.
O Google Cast também é uma extensão formidável, principalmente por permitir a transmissão de uma aba do Chrome para a televisão, de forma rápida e descomplicada.
Com esta extensão, o usuário pode simplesmente abrir uma aba no navegador e transmitir o que quer que ocorra aí para a televisão, seja um vídeo ou apenas a tela em si (tudo o que acontece na tal tela é espelhado na TV, incluindo o som, claro). Veja só: esta é uma maneira alternativa de exibir um vídeo na televisão com o Chromecast.
Espelhamento e uso de controles remotos de aparelhos de TV
O dongle do Google também permite que as telas de tablets e smartphones Android sejam espelhadas na TV, e também aqui a simplicidade é enorme. Aliás, existe uma opção no menu do aplicativo dedicada a este recurso, e um simples toque dá início ao à mágica.
Existem até mesmo alguns games com suporte ao dispositivo, games que acabam transformando o celular ou o tablet em controles, em segundas telas. A oferta de títulos ainda é limitada, mas o recurso sem dúvida é extremamente promissor. Dentre os títulos com suporte ao recurso, podemos mencionar, por exemplo, “Big Web Quiz”, “Scrabble Blitz” e “Just Dance Now”.
Mas o espelhamento de conteúdo local para o Chromecast pode esbarrar em alguns problemas. Dependendo do tipo do conteúdo, da velocidade da rede e/ou do aplicativo em questão, podem ocorrer alguns delays. Claro, a ocorrência destes pequenos atrasos é algo que acaba passando batido quando consideramos o conjunto de excelentes recursos oferecidos pelo aparelho.
Recentemente, aliás, o Chromecast ganhou um novo recurso que pode ajudar a reduzir um pouco alguns dos incômodos resultantes de uma de suas falhas.
Agora, controles remotos de aparelhos de televisão com suporte à tecnologia HDMI-CEC – Consumer Electronics Control (a grande maioria) podem pausar e reiniciar a reprodução de vídeos pelo dongle. Apenas os botões de “play” e “pause” funcionam desta forma, e isto ainda está bem longe do ideal, mas já é alguma coisa (lembre-se, um tablet ou um smartphone ainda são essenciais para usar o equipamento de streaming).
Obs: o recurso ainda é compatível com poucos aplicativos. Por exemplo, a Netflix não aceita os comandos do controle remoto, enquanto o Youtube sim.
Ausência de controle remoto dedicado, dependências e problemas
A respeito do problema que mencionamos acima, relacionado à ausência de um controle remoto, trata-se de algo que, claro, não inviabiliza o uso do dispositivo. De maneira alguma. Alguns usuários, além disso, podem até mesmo nem se preocuparem muito com isto.
O dongle é simples, prático, isto não podemos negar. Cumpre suas tarefas com maestria, e esta simplicidade toda, ao lado de sua plataforma muito mais aberta, acaba sendo uma vantagem enorme para pessoas que procuram algo que possa ser expandido, melhorado com o uso de apps de terceiros.
Isto também faz com que ele seja preferido por usuários mais técnicos e/ou que gostam de “colocar a mão na massa”, brincando com possibilidades e recursos não existentes em uma Apple TV, por exemplo (ou então, existentes porém mais complicados de serem realizados/configurados). As várias maneiras de envio de conteúdo local para a tela da TV são grandes provas disso, e aqui o Chromecast dá um banho no set-up-box da Apple.
O Chromecast também pode representar um grande atrativo para desenvolvedores se empenharem cada vez mais em criar soluções alternativas para aprimorar a experiência dos usuários (“gambiarras” para o dispositivo existem aos montes – uma rápida pesquisa no Google pode fazer com que você conheça um monte delas).
Mas não podemos negar: um controle remoto tornaria tudo muito melhor. A descentralização existente no Chromecast é um fator que contribui bastante para uma experiência de uso que acaba sendo menos fluida. Um equipamento como este, que acaba sendo visto por muita gente como uma central multimídia, a princípio, acaba se mostrando “menos central” quando suas dependências são detectadas (um Xbox 360 rodando Netflix, por exemplo, é bem mais independente, se bem que fechado, não exigindo a presença de um smartphone ou tablet).
Veja a Apple TV, por exemplo: o dispositivo de streaming da empresa da maçã também entrega o conteúdo através de apps de terceiros, mas isto se dá de uma forma bem mais integrada, bem mais simplificada, através de um conjunto de aplicativos que vêm pré-instalados de fábrica. Vale também lembrar que tudo acontece na própria Apple TV, na tela da televisão e através do uso do controle remoto: você não precisa utilizar nenhuma app em outro dispositivo.
Pode parecer que não, mas um controle remoto faz falta, aqui. Além disso, o dongle é totalmente dependente de um smartphone ou tablet, iOS ou Android. A ausência de um destes equipamentos inviabiliza seu uso, e problemas com baterias que não foram carregadas sempre devem ser levados em consideração (situação esta que não existiria caso existisse um controle remoto dedicado).
O espelhamento de conteúdo pode ser feito à partir de um PC, obviamente (veja acima), mas a utilização de serviços de streaming sob demanda, por exemplo, fica bastante prejudicada, senão impossível.
Falando agora a respeito do pequeno exemplo/comparação com a Apple TV, vale ressaltar que este último é um equipamento fechado, sem espaço para as “gambiarras” e vantagens (sem falar na extensão de recursos) conferidas por aplicativos e soluções de terceiros no Chromecast.
A Apple TV é muito mais limitada no que diz respeito aos tipos de arquivos de vídeo que podem ser exibidos, por exemplo. O espelhamento de conteúdo no set-up-box também é mais limitado, além de mais complicado (por complicado, aqui, entenda apenas “um pouco menos simples”, ou quem sabe menos amigável a usuários que não gostam de colocar a mão na massa).
É até possível ampliar a quantidade de tipos de vídeos que podem ser espelhados via AirPlay na Apple TV, através da utilização de ferramentas como o “Air Video”, por exemplo. Mas assim percebemos facilmente que a “simplicidade” do dispositivo de streaming da Apple acaba sendo uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que a vida do usuário fica mais simples, ela também fica mais “fechada”, mais limitada.
O ideal, claro, seria um meio termo, um ponto de equilíbrio, talvez. Um “dispositivo dos sonhos”, com tudo de bom que o Chromecast e a Apple TV têm a oferecer (considerando aqui o fato de que estes são os dois únicos oficialmente lançados no Brasil), e sem os problemas inerentes a cada um.
Um aparelho que pudesse ao mesmo tempo ser controlado por um aplicativo para dispositivos móveis e por um controle remoto, original, de fábrica. Um equipamento mais aberto, como o Chromecast, com um SDK disponível a desenvolvedores do mundo todo e que recebesse aplicativos tão interessantes e úteis quanto o Plex e o Videostream, por exemplo.
Um início tão tão rápido e transmissões desprotegidas
Vale também citar o fato de que começar a usar o Chromecast é um processo um tanto quanto lento, pelo menos se considerarmos outros dispositivos de streaming do mercado. Após ligarmos a TV com o aparelho plugado não somos apresentados a nenhum wizard na tela da TV, a nenhum tipo de guia que nos oriente durante o processo de configuração (na verdade, a primeira imagem exibida é um papel de parede).
Outro problema que vale a pena ser mencionado está relacionado à proteção das transmissões ou, de outra maneira, à ausência de um mecanismo que previna “bagunças”/uso indevido: qualquer pessoa dentro da mesma rede pode dar início à reprodução de um vídeo, um filme ou uma música, por exemplo. Qualquer pessoa na mesma rede com um smartphone ou tablet em mãos pode simplesmente baixar o aplicativo e acessar o Chromecast, inclusive realizando espelhamentos.
As transmissões podem também ser afetadas devido ao equipamento ter alguns problemas em relação à captação do sinal wi-fi. Em nossos testes passamos por situações deste tipo, situações em que ele simplesmente “perdeu o sinal”, e relatos similares podem ser encontrados facilmente na internet.
Justamente devido a isto ele vem acompanhado de um extensor HDMI que também funciona como antena. O usuário deve ficar atento também ao local de instalação, certificando-se de que ali existe boa cobertura por parte do modem ou do roteador.
Problemas de má recepção, vale sempre lembrar, podem ter origem em diversos elementos, muitos deles alheios ao Chromecast. É importante então certificar-se de que tudo contribui para uma boa recepção, e embora o extensor HDMI por si só não represente a solução completa, ele ajuda bastante.
Conclusão
Podemos dizer que o Chromecast é um fantástico equipamento, com um custo-benefício excelente. Mesmo no Brasil, apesar do preço mais alto, sua aquisição pode ser totalmente justificada a médio e a longo prazo.
Trata-se de outra alternativa excelente às Smart TVs. O dongle do Google transforma aparelhos de TV em dispositivos conectados e capazes de oferecer muito mais diversão e entretenimento. Seus principais problemas estão quase que totalmente ligados à ausência de um controle remoto dedicado, fator este que acaba prejudicando um pouco a experiência, além de representar uma dependência não muito bem vinda.
Mesmo assim, o dispositivo de streaming do Google não faz feio, e sua API aberta permite o desenvolvimento de aplicativos que estendem suas funções, dando também origem a formas de uso e a recursos não encontrados em outros dongles e set-up-boxes existentes no mercado.