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Compra da Sun provoca ‘calafrios’ no mundo Open Source

O que a Oracle fará com o mySQL?
Larry Ellison é um famoso ativista da estratégia competitiva. Estudante confesso da Arte da Guerra, de Sun Tzu, o executivo há muito adotou uma abordagem que confronta os interesses da Oracle contra os dos seus principais rivais – Microsoft, a IBM e a SAP, considerados ‘inimigos’ a serem abatidos.

Mas com a compra da Sun Microsystems, Larry Ellison caminhará por um terreno onde não poderá aplicar a maior parte dos seus tradicionais metódos. Os principais ativos da Sun – Solaris, Java e MySQL – consideradas ‘joias’ pela própria Oracle – e, por isso, responsáveis pelo desembolso de US$ 7,4 bilhões – estão intimamente ligados ao mundo Open Source.

Fato que torna a Sun, uma empresa completamente diferente das demais já incorporadas pela Oracle, observam analistas de mercado. Boa parte das ferramentas da Sun são disponíveis de forma gratuita e dependem dos esforços de um amplo ecossistema de desenvolvedores que criam e dão suporte para as aplicações, principalmente, àquelas baseadas na linguagem Java.

“Obviamente a Oracle vai precisar de uma mão menos pesada”, observa Kenneth Chin, analista da Gartner. “Eles adquiriram vários ativos open source e precisam manter as comunidades envolvidas”, completa. Nesses primeiros dias pós-aquisição da Sun, a Oracle pouco detalhou como fará esse gerenciamento. E há uma grande expectativa de como Larry Ellison vai traçar essa estratégia no mundo de TI.

De acordo com os analistas, é evidente que a Oracle trabalhará para fazer receita com os software, comprados com a Sun, nem que seja por meio de ‘proteção dos atuais ativos’ da companhia, que vive da receita gerada pelas licenças. Não à toa, o futuro do MySQL – base de dados open source comprada pela Sun e que passou a ser vista como uma ameaça para os programas de base de dados corporativos da Oracle – se tornou a mais imediata fonte de procupações.

Marten Mickos, ex-executivo chefe da MySQL, admite que a aquisição provocou ‘calafrios’ na comunidade open source. Mas admite que a manutenção do MySQL deve fazer parte dos planos desenhados por Ellison ao avançar sobre a Sun Microsystems. “Acho que o MySQL canibaliza a Oracle de qualquer forma. portanto, a Oracle pode muito bem se beneficiar diretamente do software”, atesta.

Gary Reback, especialista em antitruste, é mais pragmático. Segundo ele, o destino do MySQL ainda é incerto. Ele observa que há uma chance das autoridades reguladoras – que precisam aprovar a transação – possam vir a obrigar a Oracle a se ‘desfazer’ do MySQL. Mas se isso não acontecer, acrescenta, o time de Ellison também levará a melhor. “Se não houver problema com os reguladores e a Oracle for autorizada a manter o programa, ela elimina; se repassar, quem vai querer sem os desenvolvedores? ” indaga.

Uma das lideranças do mundo open source, Mitch Kapor, diz que o MySQL possui vida própria, que vai além do controle da Oracle. Isso porque, na sua opinião, o programa já se ramificou, ou seja, versões open source alternativas foram criadas e estão fora do controle da empresa de Larry Ellison.De qualquer maneira, sem o patrocínio de uma grande companhia – que era o caso da Sun – interessada em fornecer suporte ao núcleo de desenvolvedores para levar o projeto adiante, o MySQL pode vir a perder espaço, admite Kapor.

As intenções de Ellison para a plataforma Java também são alvo de várias especulações. Criada pela Sun como uma forma de se contrapor à crescente influência da Microsoft, a Java teve como grande mérito o fato de abrir um ecossistema de usuários, entre eles, a própria IBM, de quem a Oracle ‘roubou’ a Sun.

Para os analistas, se a empresa de Larry Ellison vir a minar ou a pertubar a rotina desse ecossistema, minará o valor da Java. Manter o equilíbrio com relação ao futuro do desenvolvimento da plataforma Java é, hoje, um dilema para a Oracle porque exige um ‘delicado equilíbrio’, um exercício pouco praticado por Larry Ellison, sublinha Bill Whymann, analista da ISI.

Posição contrária, no entanto, sustenta Bill Joy, co-fundador e ex-cientista chefe da Sun. “Sempre quisemos que a evolução do Java fosse participativa, mas a abertura total comprometeria a compatibilidade. Acredito que a Oracle compartilha desses valores, por isso não estou preocupado”.

A Oracle – apesar de pouco adiantar detalhes – deixou claro que planeja ganhar dinheiro com Java de uma forma que a Sun não foi capaz de fazer – outra possivel fonte de conflito com os desenvolvedores de Tecnologia. Mais do que simplesmente elevar o custo da taxa de licenciamento, a Oracle pode tentar vir a cobrar uma pequena remuneração de toda aplicação rodando Java.

Se isso ocorrer, avalia o Gartner, haveria uma implicação considerável no mundo da mobilidade. Isso porque Java é embarcada virtualmente em todos os telefones celulares. Na prática, apenas a Oracle poderá responder a todas essas questões. Quando e como? Só Larry Ellison dirá.

* Tradução do Financial Times

Com informações de Convergencia Digital.