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O que há por trás do smartphone indiano de 4 dólares?

Nessa semana, uma empresa indiana conquistou os holofotes da mídia com um smartphone que não chegaria a custar 4 dólares para o consumidor, pouco mais de 15 reais no câmbio atual. Seria verdade?

Batizado de Freedom 251, o smartphone Android deu o que falar e, segundo o fabricante, o interesse teria gerado a marca de 600 mil visitantes por segundo em seu website, tirando-o do ar.

Uma análise mais aprofundada do caso revela que é impossível custear a produção de um smartphone por esse valor e tem algo muito errado em todo o projeto. Os sinais de golpe são vários, mas isso não impediu que o assunto (e o sonho de um celular Android baratinho) circulasse pela web.

Para começar, a empresa responsável Ringing Bells não tinha qualquer atividade na área de dispositivos móveis até essa semana. Ela é administrada por Mohit Kumar Goel, um empresário até então do ramo da agricultura com ligações suspeitas com membros do partido dominante na Índia, que participaram da festa de lançamento do projeto.

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O próprio Freedom 251 tem uma semelhança muito grande com um smartphone chinês chamado de Ikon 4, que custa 60 dólares. É visível em sua carcaça, ainda que parcialmente encoberta, a marca “Adcom”, que pertence a uma empresa de importação de produtos eletrônicos baseada em Delhi, na Índia. A Adcom nega ter qualquer ligação com a iniciativa.

Para Pankaj Mohindroo, presidente da Associação Indiana de Celulares, “esse preço não é possível sob qualquer circunstância, mesmo se os componentes fossem fabricados na Índia”. O Freedom 251 apresenta uma tela de 4 polegadas, um processador 1.3 GHz quadcore, 1GB de RAM, 8GB de armazenamento, uma câmera traseira de 3.2-megapixel e uma câmera frontal de 0.3-megapixel. Além disso, ele funciona com uma bateria de 1.450mAh.

Segundo especialistas, o smartphone só pode existir por esse preço se for subsidiado agressivamente pela Ringing Bells. Mas não está claro como a empresa poderia recuperar um investimento em um dispositivo que custa, no mínimo, oito vezes mais para ser produzido. Seus representantes alegam que essa façanha seria possível através da “economia da escala”, produção local e outros cortes de custo não revelados.

A Índia é atualmente uma das mais promissoras fronteiras tecnológicas. Estimativas apontam que cerca de 700 milhões de indianos devem adquirir um smartphone nos próximos dez anos. É um mercado em expansão acelerada que atrai a atenção dos investidores. E também dos oportunistas.